sábado, 29 de novembro de 2008

Cópia de uma mensagem no Excelente blogue Anabela Magalhães

Eu, se me permitem, também partilho este excelente texto da Teresa Martinho Marques, mais conhecida na blogosfera por 3za, retirado da sua casa http://tempodeteia.blogspot.com/É um pouco longo mas vale a pena ler, atentamente, até ao fim. São as nossas mágoas, desabafos, espantos, incompreensões, escritas e registadas algures na blogosfera."Como recentemente não fui opositora a nenhum concurso do ME... nem preenchi nenhuma aplicação onde deixasse os meus dados... escapei do SPAM propagandístico que tem corrido as caixas de correio electrónico de muitos colegas meus.Acabou-se hoje a minha imunidade...A minha escola, a pedido do ME, suponho, fez-me chegar o dito SPAM com muito conforto, carinho e simplicidade... Duas mensagens longas que já conhecia da blogosfera e que nem comento.Digo apenas que nada se alterou. Se a situação era caricata antes... agora é indescritível. O tempo gasto a produzir mil e tal despachos de simplexificação em vez de pensar tudo outra vez, ou de pensar em coisas que ajudem realmente a melhorar a educação neste país, assusta-me. Aceitar isto é levar a opinião pública a constatar os dizeres tantas vezes colados a nós de que afinal "o que tu queres sei eu!"... não ser avaliado ou ser assim mais ou menos mas com muito conforto e simplexidade que é quase tão bom como uma espécie de classificação administrativa... foi por isso que andaste por aí a reclamar em manifestações e tal... já conseguiste o que querias... pronto... acabou-se a luta!Basta ler as propostas emanadas para perceber o esvaziamento de todo o sentido... a perfeita acefalia que reina... O que vamos fazer?Se se vier a confirmar a redução da componente lectiva como cenoura para os avaliadores terem tempo de andar a preencher papéis e atrás de nós... sentir-me-ei ofendida. Nenhum dos meus projectos o merece e, este ano, o meu Clubito a desoras, com três sessões semanais (duas de 45 minutos e uma de 90) fora de tempo, já conta com 58 alunos... Ando completamente estoirada, porque é uma sobrecarga imensa equiparável a actividades lectivas (trazendo muito TPC de manutenção do blogue, de acompanhamento dos projectos e de comentário e estímulo aos membros)... Guardarei para mais tarde a reflexão sobre o rebuçado dado às tarefas dos avaliadores que o merecem mais do que as tarefas dedicadas aos alunos.Afinal este mérito todo dos excelentes professores titulares vai afastá-los cada vez mais da possibilidade de o usarem ao serviço dos alunos, da educação e dos resultados estatísticos! Paradoxo interessante: quanto mais mérito tens, mais capacidade científica e pedagógica apresentas (que nem precisa de ser avaliada... claro... só vão servir para fazer o trabalho pouco claro da tutela), mais avaliador te tornas e menos tempo tens para os alunos. Ficaremos apenas nós, pobres professores sem mérito para chegar a titulares, ou progredir nas carreiras, a cuidar das crianças. Ora... se somos menos bons... menos capazes e tal do que quem nos avalia e supervisiona... como será possível vir a melhorar os resultados da educação afastando a frota dos "melhores" para avaliar colegas e colocando no activo a tomar conta das criancinhas apenas os "piores" coitaditos sem lugar, sem cargo e sem terra? Eu arriscaria dizer (como disse ao presidente do meu Departamento na Faculdade que me convidou em 1985 para ficar como docente por lá, usando o argumento de que eu tinha boas notas demais para ir para o ensino e que o ensino estava feito para atrasados mentais) que os mais bem preparados e vocacionados têm de ser colocados a trabalhar com os alunos para que o ensino possa melhorar! Como desperdiçar esse potencial pedagógico e científico, essa vocação específica, em papéis e funções que não nos competem? Essa foi uma das razões que me fizeram não aceitar o convite da Universidade e partir para a aventura do ensino dos mais pequenos, recusar dois anos depois o convite para ir para uma ESE (das melhores que conheço, com quem tenho cooperado, onde se encontram pessoas excepcionais e de elevada competência que admitiria muito mais facilmente me acompanhassem num processo de avaliação) e, agora, recusar ser titular.Todos são necessários, mas podem estar mais vocacionados para a educação de adultos, a formação de profissionais, a educação das crianças... ser Professor tem todas as cores... até as da coordenação e liderança. Seguindo a vocação que nos orienta o caminho, completamos a nossa preparação comum com o crescimento profissional e académico em certas áreas... Então por que razão a divisão neste formato proposto pelo actual ECD? Eu optei pela proximidade dos alunos, deverei ser penalizada por isso num ECD que vê tudo a preto e branco? Já ocupei todos os cargos na escola (excepto os do CE), tenho a experiência e a certificação da entrega em qualquer tarefa com sentido, mas se me obrigam a optar, que alternativas tenho de oferecer os meus préstimos à escola em diferentes momentos e nas várias qualidades?Já não quero ouvir falar deste modelo de avaliação com ou sem conforto. O problema que me move, e sempre me moveu nesta luta, persiste: afinal quem são os avaliadores? Que critérios de mérito curricular ou profissional os colocaram nessa posição?Resposta simples: nenhuns. Só por acaso alguns possuem genuinamente essa formação profissional e científica que os habilita a tal... os outros são todos iguais a mim: boas pessoas mas pronto... incapazes de avaliar colegas... iguais ou melhores do que eles...E cada vez mais, de remendo em remendo, pode ser avaliador qualquer pessoa... com ou sem título, desta ou doutra escola, assim ou assado... uma festa! Se podemos ser todos avaliadores, por que diabo insistem em ter a carreira partida em duas, com base em critérios perfeitamente absurdos que não premiaram qualquer espécie de mérito e se fizeram em toalha de mesa de restaurante com umas contas mal amanhadas a tinta de esferográfica saída da traseira de uma orelha?Desta forma não. Recuso-me a ser avaliada por pares, sobretudo pares a quem não reconheça superioridade de conhecimento, capacidade ou desempenho pedagógico e científico na docência e na formação e avaliação de docentes (e isso vê-se em duas aulitas???). Não é nada contra os colegas a quem saiu a rifa premiada... é pelo facto de serem avaliadores acidentalmente, num jogo viciado à partida.O que está podre é a raiz das coisas. Isto é uma anedota triste e não consigo sequer compreender como chegámos aqui. Por que razão ainda nos damos ao trabalho de discutir o que não pode ser discutido. Um modelo assente em coisa nenhuma. Um modelo com ar por baixo. Um modelo tipicamente português, muito ao estilo desenrasca, porque todos temos habilitações para fazer tudo e assim somos todos amigos e pronto, uma mão lava a outra que nunca se sabe bem quando está um em cima e o outro em baixo. Tudo vai ficar... não na mesma, mas muito pior.O que contesto está muito a jusante. Este modelo de avaliação que coloca a faca e o queijo nas mãos de PCEs e colegas, sem que se perceba por que razão estarão habilitados a tratar da minha avaliação, ocupados que andam enredados em tanto papel quem nem tempo têm para acompanhar ou conhecer o que faço, é apenas uma consequência aberrante de um ECD que já devia ter desaparecido de cena se houvesse vergonha genuína.Não baixo os braços. Este modelo de ECD é que não serve e por isso a forma de Avaliação assente nos erros em que se sustenta, também não.Dia 3, dia 11...Até às últimas consequências."
publicada por Anabela Magalhães às
10:44 a 29/Nov/2008

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